O docente atua na Linha de Estéticas e Narrativas do PPGCOM, com pesquisas sobre rádio e mídia sonora e desinformação no jornalismo
De uma maneira geral, todo pesquisador investiga e busca responder a questões inquietantes relacionadas a temas que despertam o seu interesse e os do campo de pesquisa em que atua. No caso de Luãn José Vaz Chagas, Doutor em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, as questões que têm despertado a curiosidade do pesquisador giram em torno do radiojornalismo.
Dentro dessa área de interesse, o docente tem trabalhado principalmente a respeito da seleção das fontes, jornalismo de soluções e jornalismo construtivo, desinformação e extrema-direita dentro do rádio, dos podcasts e das produções sonoras. Como destaca Luãn, esses são assuntos atuais e com ampla capacidade de gerar discussões relevantes na sociedade.
“Eu acho que nós vivemos um mundo que tem um crescimento muito grande no consumo de informações por meio do áudio e por meio das mídias sonoras, sejam elas o rádio, seja no crescimento que a gente tem no consumo de podcasts”, ressalta o docente.
Com graduação e mestrado em jornalismo, Luãn possui uma extensa produção de artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais. Um dos mais recentes denomina-se “As ‘vozes autorizadas’ sobre a Covid-19 no radiojornalismo”, publicado em 2023, na Revista Interamericana de Comunicação Midiática, a ANIMUS, da Universidade Federal de Santa Maria.
LINK: https://periodicos.ufsm.br/animus/article/view/65930
Em 2020, o pesquisador publicou também o livro “A seleção das fontes no rádio expandido”, pela editora EdUFMT. Nas palavras do professor Marcelo Kischinhevsky, da UERJ, que escreveu o prefácio, a obra “põe em evidência a importância da pluralidade de vozes e da efetiva participação popular no noticiário radiofônico para a própria democracia”.
Além da atuação na pesquisa e na docência, Luãn Chagas conduz o projeto de extensão Comunicast, que, em parceria com o projeto Tornar Comum, coordenado pelo professor Bruno Araújo, produz o podcast Conversa de Pesquisa, um dos produtos de divulgação do PPGCOM.
Mais recentemente, além do estudo sobre o jornalismo de soluções e o jornalismo construtivo na América Latina, o professor tem se ocupado do estudo da seleção das fontes em contextos de ascensão de vozes neoconservadoras pela extrema-direita, como na Rádio Jovem Pan. Sobre esse último tema, Chagas já possui publicações.
É sobre esse último tema que a equipe do Projeto Tornar Comum conversa com Luãn Chagas na entrevista a seguir.
Tornar Comum: Como você resume o argumento principal do seu projeto?
Luãn Chagas: Nós fizemos e estamos fazendo ao longo dos últimos anos uma análise sobre a abordagem e a cobertura jornalística daquilo que se intitula jornalismo dentro da emissora, de forma a verificar como esses valores do neoconservadorismo e do neopopulismo autoritário são defendidos ou, muitas vezes, estão presentes nas declarações das fontes dentro desses espaços. O que a gente tem percebido, na verdade, é que esses valores da moralidade, muito próximos à igreja, ao militarismo, a um determinado moralismo, têm influenciado diretamente na escolha dessas vozes. E muitas vezes, essa postura agressiva e crítica, mas não necessariamente aprofundada, é baseada em dados e tem influência dentro da seleção delas. A Jovem Pan, como uma emissora que está dentro daquele conceito de captura de mídia, ou seja, que foi alinhada ideologicamente ao governo Bolsonaro, optou por selecionar vozes que corroboram as opiniões da emissora.
Tornar Comum: Com que tipo de público o projeto de pesquisa e as discussões feitas pretendem dialogar?
Luãn Chagas: Este debate, sobre a racionalidade colonizadora da seleção das fontes e a naturalização dos pseudofatos, se divide em duas frentes. A primeira é a própria academia, no sentido de refletir sobre a naturalização dessas mentiras e da desinformação em concessões públicas, como se dá a seleção de fontes nesse ambiente e a importância de levar isso para a sala de aula na hora de você formar futuros jornalistas no debate sobre esses conceitos na própria área da comunicação. E o outro público alvo, acredito que seja a sociedade como um todo, principalmente o governo, porque precisamos oferecer um debate sobre as concessões públicas. Como essas concessões são administradas, de que forma elas atuam no jornalismo, principalmente.
Tornar Comum: Como se deu a ideia de pesquisar esse tema?
Luãn Chagas: Este projeto iniciou justamente por conta da situação que a gente tem tido nos meios de comunicação. Eu já vinha pesquisando sobre emissoras de rádios há alguns anos, assim como sobre a seleção das fontes. E aí surgiu a ideia de analisar a ascensão desse neoconservadorismo e da ascensão das mídias ligadas à extrema-direita e que “surfaram essa onda”. Ter um registro histórico e ao mesmo tempo um documento que possa mostrar para a sociedade os impactos e os problemas desse discurso desinformativo, neoconservador da extra-direita, e o discurso do neopopulismo autoritário na sociedade.
Tornar Comum: Quais são os maiores desafios no processo da pesquisa até aqui?
Luãn Chagas: Atualmente, a maior dificuldade para quem pesquisa essas questões são as plataformas. Nós dependemos de baixar esses documentos, arquivar, guardar e deixar em um ambiente de dados onde o pesquisador possa ter acesso futuramente. As plataformas são empresas que ainda não têm uma regulação no Estado brasileiro e, no momento que quiser, podem excluir esses documentos e a gente ficar na mão.
Tornar Comum: Pensando nas pessoas que pretendem participar da seleção de alunos regulares do PPGCOM e que se identificam com o tema do seu projeto, que dicas você daria a elas? Qual seria o primeiro passo?
Luãn Chagas: O primeiro passo é buscar responder a uma questão específica que lhe interesse e posteriormente analisar os projetos de cada professor/professora do Programa de Pós-Graduação para ver como encaixar esse interesse próprio no do programa. Quem tiver interesse em pesquisar rádio, rádio expandido, podcasts, ou em pesquisar a sanção neoconservadora das emissoras de rádio, o caso não só da Jovem Pan, mas de outras questões de outras emissoras que atuam no cotidiano também. Então, o meu projeto de pesquisa está aberto, inclusive para essas discussões, caso as pessoas tenham interesse. Hoje nós temos uma série de possibilidades de construir um objeto de pesquisa que possa analisar e estudar profundamente mais essas emissoras e ações.
Por Fernanda Calazans
Trabalho elaborado no âmbito do Projeto de Extensão Tornar Comum: Divulgação de Ciência em Comunicação e Poder.