Rodrigo Portari: Para além do deslocamento crítico sobre política, há uma relação de poder, um jogo tramado por detrás daquilo que é publicado

O docente atua na Linha de Pesquisa Estéticas e Narrativas do PPGCOM e tem como eixo principal de estudo a relação entre morte e mídia no jornalismo

Arquivo Pessoal

Em 2022, Rodrigo Daniel Levoti Portari se tornou mais um membro do corpo docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder (PPGCOM) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Com graduação em Comunicação Social pelo Centro Universitário de Rio Preto, mestrado em Comunicação pela Unesp-Bauru e doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rodrigo vem se dedicando, em boa parte de sua trajetória acadêmica, às temáticas relacionadas com a superexposição da morte na mídia. Um assunto, segundo ele, refutado, mas que faz parte do cotidiano desde sempre.

“Essas relações do homem com a morte ao longo da história é de aproximação e distanciamento, mas a mídia insere a temática na vida de todos, diariamente. E isso implica em diversos fatores de análise, que vão desde relação de poder até a recepção desses conteúdos”, explica o docente.

Pesquisando sobre o assunto desde 2006, Rodrigo já elaborou uma série de trabalhos. Um dos mais recentes foi publicado na Revista RuMoRes, da USP, em parceria com o também docente do PPGCOM Pedro Pinto de Oliveira, com o título: “Três ideias sobre a política da morte e uma figura pública”. Já em 2023, o professor Rodrigo publicou o artigo “A morte de uma celebridade e o rompimento da agenda noticiosa de um portal de notícias eminentemente local”, na revista Revista Temática.

LINK “Três ideias sobre a política da morte e uma figura pública” –

https://www.revistas.usp.br/Rumores/article/view/200395

LINK “A morte de uma celebridade e o rompimento da agenda noticiosa de um portal de notícias eminentemente local” –

https://periodicos.ufpb.br/index.php/tematica/article/view/65809

Arquivo Pessoal

Em suas pesquisas, o docente resgata questionamentos na busca de compreender como a mídia trata o tema da morte, principalmente, na sua relação com os públicos.

“Como eles são expostos a essas temáticas, a essas discussões e representações? Quais as implicações disso na sociedade? São questões que nos levam a reflexão”, destaca Rodrigo.

O docente também vem desenvolvendo pesquisas em outras temáticas que envolvem rádio, redes sociais e teorias do jornalismo. Em 2021, ele foi um dos organizadores do livro “Comunicação, tecnologia & sociabilidade”, como também do e-book “Cultura, sociedade e memória: Manifestações e influência na atualidade”.

LINK “Comunicação, tecnologia & sociabilidade” –

https://5fd55af0-05d2-4627-9691-0c7f536817eb.filesusr.com/ugd/d0c995_4c69dd1abebf49ef93bf18f989a47ce9.pdf

LINK “Cultura, sociedade e memória: Manifestações e influência na atualidade”

https://www.atenaeditora.com.br/catalogo/ebook/cultura-sociedade-e-memoria-manifestacoes-e-influencia-na-atualidade

Atualmente, Rodrigo Portari centra as suas pesquisas nos projetos seguintes projetos, em andamento: “Acontecimentos e figuras públicas: narrativas, afetos e sentidos que atravessam o cotidiano” (2019- ); “O trágico e suas representações e tensionamentos no jornalismo popular” (2011- ) e “O jornalismo popular e a crítica política em suas primeiras páginas” (2021- ).

É sobre o último projeto – O jornalismo popular e a crítica política em suas primeiras páginas, desenvolvido no PPGCOM –, que a equipe do Tornar Comum conversou um pouco mais na entrevista a seguir com o docente e pesquisador Rodrigo Portari.

Tornar Comum: Como você resume o argumento principal do seu projeto?

Rodrigo Portari: Durante a pandemia nós tivemos uma ampla cobertura do jornalismo acerca da COVID-19, o que era natural. No entanto, o que mais chamou nossa atenção foi a mudança de posicionamento do jornalismo popular em relação à cobertura da Pandemia. Tradicionalmente o jornalismo popular tem pautas bem estruturadas no seu modo de fazer, tais como a violência, o futebol, prestação de serviços, enfim, notícias do cotidiano de seu público alvo. Na pandemia não seria diferente, no entanto, conforme o avanço da doença se registrou no país e o grande embate entre as decisões do Governo Federal e a ciência, o jornalismo popular se reposiciona e passa a adotar uma crítica política ácida sobre o governo federal e suas decisões acerca do controle da doença. Esse tipo de posicionamento foge da característica normal do jornalismo popular, que passou a adotar um discurso mais político e, muitas vezes, mais crítico que o próprio jornal de referência (os grandes jornais como Folha de S.Paulo, O Globo, Estado de Minas, entre outros). Assim, a nossa pesquisa parte dessa observação para aprofundar em como se dá essa crítica do jornalismo popular e até que ponto ela é política ou é pautada no entretenimento, para satisfazer aquele leitor. A pesquisa está em andamento, mas temos algumas análises interessantes sobre o assunto, especialmente quando as mortes ultrapassam a casa dos milhares.

Tornar Comum: Com que tipo de público o projeto de pesquisa e as discussões feitas pretendem dialogar?

Rodrigo Portari: Nós pretendemos dialogar diretamente com esse modelo de fazer jornalismo e ampliar a compreensão e a pesquisa sobre ele. Jornalistas e o público em geral tendem a olhar para o segmento popular com desprezo ou desdém, colocando a imprensa popular como um produto de mercado, sensacionalista e feito sob medida para vender. No entanto, se observarmos em termos de alcance, a imprensa popular conquistou um espaço importante no jornalismo, especialmente por falar diretamente com camadas da população que muitas vezes não têm o hábito da leitura ou de buscar informações. E quando esse segmento passa a se posicionar politicamente no momento da pandemia, ele insere um elemento novo na vida desse público que é diferente daquele já esperado no contrato de leitura. Tenho a imprensa popular como um objeto de estudo já antigo e não se trata de defender se determinado segmento da imprensa é melhor ou pior do que o outro, mas de ampliar a visão, amplificar o conhecimento e aprofundar as análises sobre o que esse segmento está levando para essas camadas, como isso se dá e quais os possíveis reflexos que podem advir desses posicionamentos. Enfim, é um ambiente rico de discussão e que nos permite olhar para essa parcela do fazer jornalismo que deve ser observada dada a sua capilaridade no público em geral.

Tornar Comum: Quais os principais desafios metodológicos nas produções desse projeto até o momento?

Rodrigo Portari: Há um volume grande de informações, textos, capas e análises a serem feitos. O recorte temporal foi determinado no período mais crítico da pandemia, o que nos permite uma consistência no olhar e na pesquisa. Mas há muitos elementos em jogo para se analisar, desde o caráter estético dessas publicações aos textos. Da escolha de cores a ilustrações ou fotografias. Das capas às notícias internas. Então há uma gama enorme de conteúdos a serem estudados, compreendidos e muitas vezes, a necessidade de se associar metodologias e técnicas de pesquisa para conseguir extrair sentidos possíveis dessas publicações.

Tornar Comum: De que forma esse projeto se conecta com a sua linha de atuação, Estéticas e Narrativas, no PPGCOM?

Rodrigo Portari: A linha congrega pesquisas que versam sobre a produção midiática e suas relações de poder. Assim, análises de imagens, de discursos, de construção da mensagem midiática são contempladas nela. O projeto e conecta a partir desses pontos de encontro com a linha de pesquisa, destacando usos e práticas da mídia a partir do acontecimento da pandemia.

Tornar Comum: Pensando nas pessoas que pretendem participar da seleção de alunos regulares do PPGCOM e que se identificam com o tema do seu projeto, quais dicas você daria a elas? Qual seria o primeiro passo?

Rodrigo Portari: O primeiro passo, sem dúvida nenhuma, é entender o que é o segmento do jornalismo popular, qual a relação tecida entre morte e mídia e, por fim, quais as implicações das relações de poder que se materializam no fazer jornalístico. Aponto essas três características por serem fundamentais para a pesquisa. Por exemplo: um dos jornais populares objeto da pesquisa pertence a um grupo midiático que já havia se posicionado de forma combativa em relação ao governo federal no momento da pandemia. Então, para além desse deslocamento crítico sobre política, há uma relação de poder, um jogo tramado por detrás daquilo que é publicado. São diversas relações que podem e devem ser costuradas a fim de compreender como se materializa essa relação do poder, comunicação e mídia. Se o candidato opta pelo estudo da morte, mesmo que em outros segmentos jornalísticos, por exemplo, quais são as relações de poder a partir desse objeto? A quem pertence o “morrer”? Ao cidadão? Ou aos governos que, por meio de suas ações, podem escolher quem vive e quem morre? São muitas implicações, questões filosóficas ou práticas que podem se materializar nesse campo de estudo.

 

Por Fernanda Calazans

Trabalho elaborado no âmbito do Projeto de Extensão Tornar Comum: Divulgação de Ciências em Comunicação e Poder

 

 

 

 

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