Dôuglas Ferreira: As marcas são produtos da cultura; para estudá-las, é preciso ir além de uma perspectiva comercial

O docente atua na Linha de Pesquisa Estéticas e Narrativas do PPGCOM e orienta trabalhos sobre marcas e outros objetos da comunicação publicitária

Desde quando assumiu o cargo de professor titular na área de comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em 2018, o professor Dôuglas Aparecido Ferreira tem compartilhado seu conhecimento com os estudantes da graduação. A partir de 2022, o doutor em Comunicação Social na Universidade Federal de Minas Gerais, se tornou docente permanente no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder (PPGCOM) na UFMT.

Por perceber seu perfil criativo, o professor se interessou pela publicidade logo cedo, e descobriu na profissão os seus principais interesses. A partir de suas pesquisas e do estudo, entendeu que as produções publicitárias, as estratégias de marca e as formas de trabalho de comunicação organizacional refletem os valores e as contradições da sociedade nos tempos atuais.

Aos poucos e conforme as experiências adquiridas durante a sua vida acadêmica e profissional, ele abraçou como objetos de interesse e estudo as marcas, a publicidade, a comunicação organizacional e o mundo do trabalho no capitalismo.

Ferreira analisa a experiência na docência do mestrado como produtiva. Em 2023, ele ministrou a disciplina “Comunicação e Poder: perspectivas teóricas e epistemológicas”. Apesar de reconhecer os desafios impostos à área científica, por causa da falta de investimentos, o professor tem como objetivo formar novos pesquisadores, motivado a contribuir com a ciência brasileira.

“A minha contribuição é despertar nos alunos o senso crítico e a vontade de fazer ciência de forma séria, honesta, com rigor e que sirva para compreender e transformar a realidade em que vivemos”, afirma.

O seu envolvimento com a pesquisa no âmbito comunicacional vem desde a sua graduação, com participações em grupos e projetos de pesquisa. No seu mestrado, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, ganhou a quarta edição do Prêmio ABRAPCORP (Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas) de Teses e Dissertações, em 2017.

LINK – https://abrapcorp.org.br/premio-abrapcorp-de-dissertacoes/

A dissertação de sua autoria, ganhadora do prêmio, intitulada “O jornal que subiu as escadas: um estudo sobre as estratégias de comunicação e as representações de papéis que marcam o jornal interno Piãoneiro/Roda Livre de Lagoa da Prata-MG”, acabou se transformando em um livro, com o título “O Jornal que Subiu as Escadas”, publicado em 2021, pela Editora da Universidade Federal de Mato Grosso.

LINK – https://www.edufmt.com.br/product-page/o-jornal-que-subiu-as-escadas

Atualmente, além de se dedicar à graduação e ao mestrado, Ferreira segue desenvolvendo produções científicas acerca das marcas. Coordena o projeto de pesquisa “Dos atributos aos valores sociais: o que as marcas cuiabanas dizem sobre nossa sociedade”, que objetiva justamente compreender a realidade a partir das metáforas utilizadas pelas marcas a fim de se auto representarem.

O projeto, que possui integrantes de graduação e pós, já possui resultados científicos. O professor destaca, da sua produção recente, o artigo: “Metáforas e Valores Sociais: o que uma marca pode revelar sobre a sociedade de nosso tempo”, que aguarda publicação, pela Revista Observatório.

É sobre esse trabalho recente que a Equipe do Tornar Comum conversou com o professor Dôuglas Ferreira na entrevista a seguir.

Tornar Comum: Como você resume o argumento principal do texto?

Dôuglas Ferreira: O texto apresenta nossa primeira experiência com uma metodologia de análise de marcas que parte do pressuposto de que, as metáforas que elas comunicam, intencionalmente ou não, dizem sobre os valores da nossa sociedade. Para tanto, a gente analisou uma marca cuiabana porque tínhamos também o intuito de dar um caráter regional às nossas descobertas.

Tornar Comum: A metodologia costuma ser uma preocupação para os iniciantes na pesquisa. Como foi o processo metodológico deste texto?

Dôuglas Ferreira: Como se trata de uma proposta metodológica nova, a gente está em uma fase de experimentação. A aprovação do artigo nos aponta que talvez estejamos no caminho certo. Afinal, de algum modo, estamos sendo validados por pares do campo científico. Mas ele precisa ser melhorado e refinado. Por isso, nossa meta é testá-lo com outros objetos empíricos para avaliar seus desafios e potencialidades.

Tornar Comum: Considerando o seu tema, quais são as pessoas com maior interesse pelo artigo? Por quê?

Dôuglas Ferreira: Penso que, principalmente, quem trabalha com criação de marcas, para entender sobre o impacto e a responsabilidade que se tem quando se comunica. E para outros pesquisadores que, assim como nós, acreditam que, por meio da comunicação se entende os traços da sociedade em que vivemos. E, ao chegar nessa compreensão, propor ações para transformá-la.

Tornar Comum: Incluído o tema deste texto e outros pelos quais você se interessa, que possibilidades temáticas você apresentaria para quem deseja fazer pesquisa na sua área de interesse?

Dôuglas Ferreira: Penso que ainda há muito que se estudar sobre marcas. De modo geral, as pesquisas sobre marcas vão para um caminho meramente mercadológico. Não que isso não seja importante, mas há muito mais que podemos conhecer por meio delas. Elas são produtos de nossa cultura. Afetam e são afetadas pela sociedade. Então, não dá para limitá-las a uma perspectiva comercial, é preciso ir além. Reconhecendo o impacto que as marcas têm na sociedade. Por exemplo, reforçando ou propondo valores sociais.

Tornar Comum: O PPGCOM tem a interface de comunicação e poder como área de concentração. Como você articula a sua pesquisa com as relações de poder e a comunicação?

Dôuglas Ferreira: Embora exista essa relação entre sociedade e marca, não dá para desprezar que essa relação é desigual. As marcas ocupam um lugar de destaque e, na maioria das vezes, possuem maior capacidade de visibilidade e de influenciar o espaço público. Principalmente no âmbito do consumo. Isso não significa que os públicos não possam enfrentá-las e contradizê-las, mas que, geralmente, isso não se dá de forma tão efetiva. Tanto é que, embora os públicos possam “cancelar” uma marca, na maioria das vezes, elas ainda conseguem se reerguer devido ao apelo econômico e, às vezes, até à ameaça que causam quando se tornam um elemento importante para a economia. Em suma, há uma relação de poder entre marcas e sociedade, de modo que, embora não dá para separá-las, nos enfrentamentos vemos como esses dois entes estão em tensão e constante relação.

Por Larissa Azevedo

Trabalho elaborado no âmbito do Projeto de Extensão Tornar Comum: Divulgação de Ciência em Comunicação e Poder.

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