Em aula inaugural do PPGCOM, Nísia Martins do Rosário discute imagens, mídia e poder

Pesquisadora debateu conceito de ‘corpos eletrônicos’, em evento virtual que marcou o ingresso da segunda turma do programa.

Ao ligar a TV, ver um vídeo no YouTube ou nas redes sociais, pouco se percebe a lógica por trás das imagens. É com este ponto essencial de discussão, entre outros, que a aula inaugural com a participação da Profa. Dra. Nísia Martins do Rosário, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), abriu oficialmente os estudos da segunda turma do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGCOM-UFMT).

Com o tema ‘Corpos eletrônicos e os procedimentos de poder’, o debate contou com abertura cerimonial do Prof. Dr. Bruno Araújo, coordenador do PPGCOM-UFMT e com a mediação da Profa. Dra. Pâmela Craveiro, docente no programa. Na oportunidade, Nísia do Rosário apresentou o conceito de corpo eletrônico como a representação do ser humano na mídia. Para ela, este corpo pode assumir três princípios no campo midiático: o jogo, a sedução e a prescrição, sendo este último mais voltado ao poder. 

“Na mídia, o corpo se transforma e se recria, adaptando-se aos propósitos comerciais criativos informacionais e estéticos, ao mesmo tempo em que se integra a todas essas inovações tecnológicas, que cada vez mais se multiplicam. (…) É um corpo que só existe na imagem dos discursos midiáticos. Muitas vezes quando percebemos imagens e sons nas mídias, não consideramos que o corpo que está se evidenciando são construções, reproduções ou simulações. Eles vão se materializar nas telas não como corpo biológico, mas como uma imagem e, sendo corpo midiático, vão adquirir um poder próprio”, explica a pesquisadora.

Segundo a professora, mesmo que o corpo eletrônico seja formado por algoritmos, tendo sua reprodução instantânea e feita sem gestação, sendo apenas um ‘copia e cola’, o patrimônio continua sendo os traços humanos. Como tudo na vida, no entanto, isso sofre transformações com o tempo. “Mas, percebe-se também mutações genéticas, fruto dos tensionamentos sobre as padronizações e normatizações, bem como os avanços tecnológicos, que formam esse corpo cada vez mais híbrido, caleidoscópico e também multifacetado”, ressalta.

Eles [os corpos] vão se materializar nas telas não como corpo biológico, mas como uma imagem e, sendo corpo midiático, vão adquirir um poder próprio.

Nísia Martins do Rosário Professora convidada para a aula inaugural do PPGCOM 2021

Rosário destaca, sobretudo, o último princípio do corpo eletrônico no campo midiático. “Fazendo uma analogia à receita prescrita pelo médico e a possibilidade do paciente seguir ou não essa receita. Mas como esse paciente não entende da área da saúde e biológica, ele, dependendo do caso, vai se ver obrigado a acreditar e seguir as prescrições do médico”, esclarece, demonstrando que o corpo eletrônico inserido neste campo da prescrição é um corpo controlado. “Portanto, ele serve mais da imposição do que o convencimento para articular os discursos desse corpo e fundamenta sua mensagem principalmente no poder e no saber, sustentados pela força da lógica e por uma série de normatizações que estão implícitas nesse âmbito”.

A padronização dos corpos eletrônicos também ganhou destaque na discussão. Com base nas pesquisas que coordena, que relacionam publicidade e infância, a professora Pâmela Craveiro ressaltou a padronização das crianças produtoras de conteúdo. “Quanto mais aquela criança alcança sucesso, com milhões de seguidores, mais a gente observa uma padronização, tanto relacionada aos programas midiáticos tradicionais, como programas de auditório da década de 90, como padronizações com youtubers adultos de sucesso”, disse.

Para Rosário, há sempre a busca pelo atendimento de expectativas. “Nós podemos ver exatamente uma espécie de transformação ou de adequação deles [crianças] às técnicas midiáticas, tanto as técnicas de produção audiovisual, quanto às técnicas do próprio comportamento e temáticas desenvolvidas por esses youtubers, que vão atender as expectativas dos seus seguidores”, afirma.

Sobre Nísia Martins do Rosário

Nísia Martins do Rosário é doutora em Comunicação e docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É mestre em Semiótica pela Unisinos (1997) e graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela mesma instituição. Possui posição de destaque dentro da pesquisa em Comunicação no contexto brasileiro e latinoamericano. Foi coordenadora do GP Semiótica da Comunicação da INTERCOM entre 2019 e 2020, e Vice-presidente da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS), também entre 2019 e 2020. 

Confira a aula inaugural na íntegra no canal do YouTube do PPGCOM.

 

Por: Rogério Júnior, estudante de graduação em Jornalismo. Matéria escrita no âmbito do projeto de extensão ‘Tornar Comum: Divulgação de Ciência em Comunicação e Poder’.

Acessbilidade