Antropologia Digital: minicurso amplia horizontes metodológicos

A atividade integrou a programação da Semana de Abertura do ano letivo

Bruno Fernandes*
Iasmim Sousa*

O minicurso “Introdução à Antropologia Digital”, realizado na última quinta-feira (13), integrou a programação da semana inaugural do semestre 2025/1 do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGCOM/UFMT).

Ministrado pela professora Letícia Cesarino, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o evento apresentou uma visão introdutória sobre a antropologia digital, um campo recente e interdisciplinar que dialoga com áreas como Comunicação, Linguística e Tecnologia.

Com a participação de 18 estudantes de pós-graduação dos Programas de Comunicação, Antropologia Social e História da UFMT, o minicurso destacou a proximidade entre os objetos de estudo da Comunicação e da Antropologia.

Letícia Cesarino enfatizou a importância da metodologia da antropologia digital: para os estudantes de Comunicação, foi uma oportunidade de conhecer conceitos como etnografia e sua aplicação em ambientes digitais; já para os de Antropologia, uma chance de explorar o componente digital, o que é menos familiar para muitos.

A pesquisadora também abordou os desafios da área, como a falta de institucionalização, a escassez de disciplinas específicas nos currículos e a carência de infraestrutura e financiamento para pesquisas que exigem softwares, nuvens ou servidores.

Cesarino publicou, em 2022, o livro “O mundo do avesso” pela Ubu Editora (Foto: Iasmim Sousa)

Além disso, ressaltou o desafio interdisciplinar, que exige diálogo com outras áreas, como Linguística e Tecnologia, para compreender fenômenos relacionados à mídia e ao digital. “Outro é o desafio interdisciplinar propriamente dito, porque você necessariamente precisa falar para fora da Antropologia, para outras áreas, como a Linguística, Tecnologia, a própria Comunicação, para entender sobre mídia, que normalmente é algo que os antropólogos não estudam. Então, a interdisciplinaridade é um outro desafio bastante grande, mas que, ao mesmo tempo, é a parte mais divertida e mais promissora desse campo”, complementa.

Para Luciana Magalhães França, mestranda do PPGAS e vice-presidente do Quilombo Córrego das Emas, em Barra do Bugres, o minicurso foi relevante para seu anteprojeto de pesquisa, que aborda as comunidades quilombolas da região e suas lutas por território e memória.

Luciana destacou a importância de ampliar seus horizontes metodológicos, especialmente considerando que as famílias do quilombo não têm acesso à internet ou às mídias digitais. “Lá [no Quilombo Córrego das Emas] temos 15 famílias que persistiram e moram na comunidade e 35 famílias que estão na luta para retornar”.

De acordo com Luciana, as famílias que moram no quilombo não têm acesso à internet e muito menos às mídias digitais. Por isso, ela considerou um momento importante para ampliar seus horizontes metodológicos.”

Rose Domingues, mestranda do PPGCOM, também participou e destacou a relevância de explorar plataformas como o TikTok em sua pesquisa sobre a campanha do agronegócio “O agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo”.

Ela avaliou que a interação entre estudantes de diferentes áreas foi enriquecedora, pois todos compartilham o interesse em entender as dinâmicas humanas e as relações comunicativas. “O estudo do humano, seja para o comunicador, seja para o antropólogo ou para o cientista social, acaba tendo uma interseccionalidade, porque todos nós estamos tentando entender como funciona essa comunicação, no que essas pessoas pensam, quais são os valores que emergem dessas relações, dessas conexões”, disse.

Sobre a pesquisadora

Letícia Cesarino é Professora Adjunta no Departamento de Antropologia e no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais (2004), mestrado em Antropologia pela Universidade de Brasília (2006), e doutorado em Antropologia pela Universidade da Califórnia em Berkeley (2013). Foi Assessora Especial em Educação e Cultura em Direitos Humanos no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) em 2023-24. É autora de “O Mundo do Avesso: Verdade e Política na Era Digital” (UBU, 2022). Pesquisa no campo das humanidades digitais, ecologia da mente e pós-neoliberalismo.

*Estudantes de Jornalismo da UFMT e integrantes do projeto de extensão “Empiria: agência de jornalismo e divulgação científica”

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