Obra é resultado da pesquisa de pós-doutorado do professor e pesquisador Vinicius Souza.
Os movimentos de negacionismo científico, histórico e da própria realidade objetiva e a enxurrada de fake news no cenário político têm impulsionado a ascensão de políticos neofascistas em todo o mundo e preocupado democratas e acadêmicos. É inegável que essa inundação de desinformações se utiliza da capilaridade e velocidade das redes digitais, mas ainda falta estudar o porquê de serem tão eficientes na destruição de amizades, separação de famílias e derrubada de governos e políticas públicas quando são obviamente mentirosas e muitas vezes totalmente absurdas.
Foi a inquietude sobre esses temas que levou o professor e pesquisador Vinicius Souza, integrante do grupo fundador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder da UFMT (PPGCOM-UFMT), a buscar as causas e não só os meios pelos quais são questionados os fatos mais básicos como o formato da terra ou o posicionamento político do nazismo. Após quatro anos de desenvolvimento em duas universidades federais, o projeto de pesquisa culminou num pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e na publicação do livro ‘Quer que desenhe? Imagens, fake news e mudança no modo de pensamento’.
A hipótese de Souza é que a própria forma hegemônica de pensamento da humanidade, na atualidade, está mudando com a profusão das imagens no ambiente midiático mundial. Sua ideia se baseia na teoria do filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser de que a invenção da fotografia iniciou a era da pós-história, com a volta do ancestral raciocínio baseado em imagens lentamente se sobrepondo àquele calcado nos textos escritos.
A hipótese de Souza é que a própria forma hegemônica de pensamento da humanidade, na atualidade, está mudando com a profusão das imagens no ambiente midiático mundial. Sua ideia se baseia na teoria do filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser de que a invenção da fotografia iniciou a era da pós-história, com a volta do ancestral raciocínio baseado em imagens lentamente se sobrepondo àquele calcado nos textos escritos.
“O pensamento mágico-imagético-circular retira das mensagens o seu significado de uma única vez, a partir de conhecimentos e ideias já adquiridas, sendo ótimo pra reforçar pré-conceitos. Já o pensamento tempo-histórico-linear, iniciado com a invenção da escrita, trabalha com causas e consequências e é muito melhor para a argumentação sobre novas ideias”, diz Souza.
Segundo o jornalista e professor do PPGCOM-UFMT, como a grande força das imagens é o seu impacto emocional, especialmente nas emoções mais básicas como medo, ódio e desejo, a manipulação imagética facilita a transformação de mentalidades e a condução das massas para movimentos fascistas. “O que descobri na pesquisa é que isso tem levado mesmo à leitura de textos escritos como se fossem imagens e que quando as mentiras estão consolidadas nas mentes da população o próprio cérebro luta mantê-las, por mais absurdas que sejam”, explica Souza. “Com isso, é possível entender como falsas respostas simplistas para problemas complexos podem ser tão facilmente aceitas, como, por exemplo, acreditar que a solução para a segurança pública é a distribuição de armas”.
“O que descobri na pesquisa é que isso tem levado mesmo à leitura de textos escritos como se fossem imagens e que quando as mentiras estão consolidadas nas mentes da população o próprio cérebro luta mante-las, por mais absurdas que sejam”
‘Quer que desenhe? Imagens, fake news e mudança no modo de pensamento’ traz dezenas de teóricos das mais diversas origens e análises de casos concretos no Brasil para demonstrar como a hegemonia do pensamento mágico-imagético-circular está afetando a política, a sociedade e o nosso ambiente midiático, desde os jornais impressos, até produtos audiovisuais e passando, claro, pelas redes sociais. Além de autores clássicos, também estão presentes no texto, e nas imagens, do livro pensadores decoloniais, ativistas e jornalistas que só recentemente começam a ser estudados na academia.
O livro ‘Quer que desenhe? Imagens, fake news e mudança no modo de pensamento’ já está disponível aos interessados nos formatos e-book e impresso com edição da Editora Casa Flutuante e apoio do PPGCOM-UFMT, Departamento de Jornalismo e Editoração da USP e o Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação da USP.